segunda-feira, 28 de maio de 2012

Conferência "A Obra de Raúl Chorão Ramalho no Arquipélago da Madeira", por Emanuel Gaspar (29-05-2012; 17:00)

  [Clicar na imagem para ver Convite]

 
Resumo

O fim da 2.ª Guerra Mundial, com o consequente despertar das democracias e uma oposição revigorada pela derrota do fascismo na Europa, conduz a uma certa agitação cultural que, em Portugal, no campo da arquitectura, vai determinar uma reflexão sobre a arquitectura moderna no país.
Esta reflexão resulta, essencialmente, em três acontecimentos determinantes: o livro do arquitecto Fernando Távora “O problema da Casa Portuguesa”, de 1947; o I Congresso Nacional de Arquitectos em 1948; e, o mais significativo de todos eles, o inquérito à “Arquitectura Popular em Portugal” elaborado pelo Sindicato Nacional dos Arquitectos e publicado em 1961. Eventos que vão desencadear uma viragem na cultura arquitectónica portuguesa.
Surgida no pós-guerra, a segunda geração de arquitectos modernistas portugueses opõe-se ao neo-regionalismo materializado na suposta Casa Portuguesa que floresceu, na primeira metade do séc. XX, divulgada sobretudo pelo Arq.to Raul Lino. Fruto de uma visão arquitectónica algo limitada, algum atraso cultural e ideologia política dominante, que reduziam a questão da arquitectura regional portuguesa a uma colectânea de elementos típicos das diversas regiões para a composição das fachadas, a Casa Portuguesa resultava de um amaneiramento das formas e de um somatório de variados pormenores decorativos que a tornavam pitoresca.
Aquela 2ª geração de arquitectos modernistas recusam a arquitectura monumental-simbólica do Estado Novo e assumem a linguagem do Movimento Moderno Internacional seu contemporâneo. Rejeitam o ecletismo da arquitectura académica e os valores de temporalidade e tradição que ela sugere. Admiram Le Corbusier, Gropius, Mies van der Rohe, Alvar Alto e deixam-se contagiar pela moderna arquitectura brasileira. Procuram o racionalismo, a funcionalidade, a luminosidade e a expressividade.
Os já mencionados e determinantes eventos na Arquitectura Portuguesa vão ditar o fim do mito da nostálgica Casa Portuguesa, pastiche do falso regionalismo.
Integrando-se nas novas concepção estética e consciência teórica surge o trabalho pioneiro do Arqt. Raúl Chorão Ramalho no Arquipélago da Madeira. Diplomado pela Escola de Belas-Artes do Porto (EBAP) em 1947, mesmo antes de terminar o curso, trabalhou com Faria da Costa e Keil do Amaral nos Serviços de Urbanização da Câmara Municipal de Lisboa. Autor de diversas obras por todo o país, a sua produção assenta em larga escala na Ilha da Madeira, nomeadamente no Funchal, para onde veio inicialmente trabalhar (1944) numa missão da Direcção Geral dos Serviços de Urbanização e, simultaneamente, para a Comissão Administrativa dos Aproveitamentos Hidráulicos da Madeira, órgãos dependentes do Ministério das Obras Públicas. Em 1946 é membro fundador do ICAT (Iniciativas Culturais, Arte e Técnica) e participa na I Exposição Geral de Artes Plásticas com uma casa de habitação. Em 1948 participa no I Congresso Nacional de Arquitectura e na III Exposição de Artes Plásticas, com fotografias da remodelação da Cervejaria Trindade, em Lisboa. É membro do júri da selecção e premiação da II Exposição de Artes Plásticas da Fundação Calouste Gulbenkian realizada em 1961 e que pela primeira vez integra projectos arquitectónicos.
Na Madeira, à semelhança do que aconteceu no resto do país, o primeiro e tímido modernismo dos anos 30 é interrompido pela arquitectura do Estado Novo e pelos valores de tradição dos anos 40.
O arquitecto Chorão Ramalho vai afirmativamente implantar a arquitectura modernista na ilha, numa simbiose com a arquitectura vernácula. Vai retomar o tema da Casa Portuguesa (casa regional), não no sentido da casa tipologicamente reproduzível e mimética, mas procurando incorporar na sua moderna arquitectura lições construtivas regionais. Observando e estudando atentamente a arquitectura local, popular vernácula e erudita, atenta às técnicas construtivas locais, aos materiais regionais, à ligação à Natureza que a casa madeirense revela e à sua forma de implantação no terreno, bem como a sua relação com o clima. Absorve, de uma forma expressiva e funcional, materiais locais como a cantaria, o calhau rolado, os tapa-sóis ou a cobertura em “salão”. Atende à memória, à tradição local, sem nunca deixar de fazer uma arquitectura de linguagem moderna do seu tempo. A sua inovadora arquitectura denuncia respeito pela cultura local e evidencia uma clara dialéctica entre tradição e futuro, modernidade e história.
Ao analisarmos os seus inúmeros projectos para a Madeira verificamos que num primeiro momento a sua obra na Madeira se filia no Estilo Internacional, para numa segunda altura a sua produção acultura-se, contextualizando-se tendo, a partir dos anos 70, tornado-se mais expressivamente brutalista.
Como grande parte dos seus edifícios são públicos, Chorão Ramalho preocupou-se em projectar obras para durar, que resistissem à passagem do tempo e que fossem moldáveis e adaptáveis a uma provável expansão dos serviços.
Nas diversas obras constatamos uma clara intenção de pluridisciplinaridade das várias expressões artísticas que Chorão Ramalho pode enfatizar graças à sua relação privilegiada com a elite artística da época, fruto da suas participações nas diversas Exposições Gerais de Artes Plásticas.
Entendidas como obras de arte integradas na arquitectura, fazendo parte de um todo, estas expressões plásticas ajudam a animar a austeridade dos espaços.
Só recentemente surgem no arquipélago exemplares significativos, que na senda de Chorão Ramalho, ancoram a arquitectura contemporânea à arquitectura popular regional.
Chorão Ramalho marcou uma época e uma região, funcional e eticamente, sem alinhar incondicionalmente nas “modas” vigentes. A sua obra no Arquipélago da Madeira constitui património arquitectónico de grande relevância, pela mestria, subtileza, elegância, erudição e aproximação ao meio envolvente que revela.
Este profissional é uma referência na arquitectura da segunda metade do Séc. XX na Madeira e em Portugal, pela qualidade da sua arquitectura, pela coerência entre forma, função e construção e pelo respeito que sempre manifestou pelas memórias e tradições arquitectónicas locais.


Nota Curricular

Emanuel Gaspar é natural de Machico, Madeira. Licenciatura em História da Arte pela Universidade do Porto, em 1996, e com mestrado em Arte e Património, pelo Departamento de Arte e Design da Universidade da Madeira, em 2008, com a classificação de 19 valores.
Professor efectivo do ensino básico e secundário com o cargo de Coordenador do Departamento das Ciências Humanas e Sociais.
Responsável pela Secção do Património da Associação de Arqueologia e Defesa do Património da Madeira (ARCHAIS).
Orador de conferências e formações sobre o património móvel e imóvel da Madeira.
Autor de projectos de classificação de edifícios históricos da Região Autónoma da Madeira.
Tem vários trabalhos publicados na área do Património Cultural e é responsável pela elaboração de alguns inventários concelhios do Património Imóvel.

segunda-feira, 21 de maio de 2012

Conferência "Urbanismo e Arquitetura na Madeira de inícios do século XX", por Teresa Vasconcelos (23-05-2012; 17:00)

[Clicar na imagem para ver Convite]

Resumo

Ao Urbanismo e à Arquitetura de inícios do século XX na Madeira, e à cidade do Funchal em paticular, se associa o nome do arquiteto Miguel Ventura Terra, através da realização do Plano de Melhoramentos para o Funchal de 1913-1915.
Trata-se de um documento que prevê a remodelação da cidade do Funchal e que denuncia a maturidade urbanística de um dos grandes arquitetos portugueses do início do século XX. Ventura Terra baseia-se na ideia de modernização das cidades aplicando os conceitos correntes do urbanismo francês da época, como sejam os grandes eixos viários retilíneos (os “boulevards”), as rotundas de distribuição viária, as amplas praças e os parques na periferia da cidade. O plano reflete o ideário republicano do arquiteto e as intenções iniciais, socializantes, da 1.ª República. Porém, a realidade insular da época não se encontrava à altura de tão grande visão, tendo-se deparado com dificuldades iniciais de implementação.
Em 1932 o arquiteto modernista Carlos Ramos retoma algumas das propostas do seu mestre, no Plano de Urbanização para o Funchal de 1931-1932. Nos anos trinta-quarenta o moderno projeto de Ventura Terra merece grande impulso pela mão do autarca Fernão de Ornelas. Na cidade ocorrem intensas transformações urbanísticas que trazem à Madeira novos valores da arquitetura e do urbanismo português. Ao longo do século XX o Funchal moderniza-se tendo por base, embora com alguns ajustes, o Plano de Melhoramentos do arquiteto Ventura Terra.

Nota Curricular

Teresa Maria Teixeira Mendes Vasconcelos é natural do Funchal.
Estudou Artes Plásticas/ Pintura e Design/Projectação Gráfica no Instituto Superior de Artes Plásticas da Madeira. Iniciou a sua carreira docente em 1985 no agrupamento de Artes. Desempenhou funções de Designer no Departamento de Artes do Diário de Notícias do Funchal, em 1995. Concluiu o Mestrado em História e Cultura das Regiões, vertente História da Arte, na Universidade da Madeira, em 2006, com a tese “O Plano Ventura Terra e a Modernização da Cidade do Funchal”, tendo sido aprovada por unanimidade com a qualificação de Muito Bom. Trabalho posteriormente editado pela empresa “Funchal 500anos” em Maio de 2008.
A convite do Museu Photografia-Vicentes participou no projecto Memória Digital Atlântica, Interreg IIIB Açores, Madeira e Canárias, tendo, em Junho de 2007, proferido  a comunicação: “Fotografia na Madeira: os primeiros fotógrafos profissionais”.
Ultimamente tem proferido várias comunicações:
Em Março de 2008, a convite do Grupo de História da Escola Gonçalves Zarco, proferiu a comunicação: “Um Olhar Moderno sobre a Cidade Quinhentista”; em 2009, a convite da APH, no Arquivo Regional da Madeira, efectuou a comunicação “O Plano Ventura Terra”. Em Maio 2010, na Escola Jaime Moniz proferiu a comunicação: “O Contributo de Ventura Terra no Planeamento Urbanístico da Cidade do Funchal”. Em outubro de 2010 participou no Seminário A República e os Republicanos na Madeira (1880-1926), com a intervenção: “Miguel Ventura Terra, um Arquitecto Republicano na Madeira”, que se realizou no CEHA.
Colaborou na Newsletter, n.º 6, do CEHA com o artigo: “A Capela de Nossa Senhora da Conceição no Monte”.
Presentemente é professora efectiva na Escola Secundária Jaime Moniz desempenhando as funções de Delegada do Grupo de Artes e Coordenadora do Departamento de Expressões.

terça-feira, 15 de maio de 2012

Conferência "O Re-nhau-nhau – Um modo madeirense de sátira social e política (1929-1977)", por Emanuel Janes (15-05-2012; 17:00)



[Clicar na imagem para ver Convite]

Resumo

O trabalho que nos propomos realizar é salientar a importância que teve o trimensário humorístico madeirense Re-nhau-nhau, jornal de caricaturas, que gira em torno da caracterização do Zé Povinho da Madeira, que pelas suas características próprias comuns ao Madeirense como Ilhéu, tratamos por: ZÉ MADEIRENSE.
Salientaremos o papel e a importância que esse estereótipo teve no sucesso do periódico, a relação com ele, e o papel que desempenhava na sociedade madeirense de então.
Re-nhau-nhau era um jornal que fazia parte da vida das pessoas de bom gosto, das pessoas que sabiam ler nas entrelinhas, devido até a uma necessidade imposta pela política de então. Sem ele: "a vida da Madeira seria um árido deserto com meia dúzia de camelos que jogam à batalha naval nas mesas do Golden Gate".
É de salientar a longa duração deste periódico (48 anos), período de tempo pouco habitual para este tipo de jornalismo e numa região como a Madeira, pouco dada a estes propósitos, e mais ainda se pensarmos que ele sobreviveu, durante quase toda a sua vida, debaixo de uma apertada Censura que não permitia a ninguém a ousadia de sair fora dos limites por si impostos.
Este periódico durou de 16 de Dezembro de 1929 até 20 de Dezembro de 1977, cumprindo sempre os ideais com que inicialmente se apresentou, apenas com algumas ligeiras alterações de direcção e administração, devido à morte de João Miguel e de Gonçalves Preto. A partir de 1959, com a morte de João Miguel, a administração passou para os seus herdeiros, e a partir de 1971, com a morte de Gonçalves Preto a direcção passou para Maria Mendonça que, por motivo de grave doença o abandonou, algum tempo depois, em favor de Gil Gomes.
E assim surgiu o Re-nhau-nhau, periódico que transformaria a forma de fazer jornalismo na Madeira, enfeudada a certos senhores todo poderosos que tudo faziam para emperrar a livre iniciativa.

quinta-feira, 10 de maio de 2012

Exposição "The blind spot", de Flávio Martins (10-05-2012 a 23-05-2012)


[Clicar na imagem para ver Cartaz]


The Blind Spot
Flávio Martins


«O projeto "The blind spot" ou "O Ponto cego" é um projeto individual que explora os efeitos visuais provocados pela projeção de imagens próximas
do universo da Optical Art através de vídeo-projeção.
Os efeitos visuais projetados progridem num determinado período de tempo enfatizando o movimento de formas "alucinatórias", pretende-se criar um momento psicadélico de fruição.
Por sua vez, o projeto explora uma relação de simultaneidade entre o som e a imagem (digital e electrónica) pautada entre situações de silêncio e ruído.
O objecto que recebe a projeção consiste numa "caixa retangular" (25x150x50 cm) de laterais oblíquas (45 graus aproximadamente).
O ponto cego é o nome científico dado a uma pequena concavidade da retina que incapacita o indivíduo de ver num determinado ângulo, deste modo, "The blind spot" explora a capacidade do espectador conseguir ver ou não determinados os efeitos visuais projetados.»


Em exposição no Centro de Estudos de História do Atlântico
Rua das Mercês 8, Funchal
10 a 23 de Maio de 2012

Exposição "Corpo e Espírito", de Carlos Mata (10-05-2012 a 31-05-2012)


[Clicar na imagem para ver Cartaz] 


Corpo e Espírito
Carlos Mata

«O meu projecto consiste numa catarse, feita através da minha visão da sociedade. É um projecto de desenho.
Corpo e Espírito é um conjunto de desenhos que representam algumas das problemáticas presentes na vida do ser humano e com signos que interagem com ele. Isto é, problemas adquiridos pela convivência em sociedade. Este desenho serpenteia entre o Naif e o expressionismo.
O trabalho consistirá numa narrativa vista em panorâmica, com dimensões variáveis (ideal para paredes até 5 metros de largura).
O meu trabalho tem fortes influencias da Art Brut, Bad Painting, Graffitti e até Tattoo.
É um desenho rápido, espontâneo, tal como a Art Brut, que é desenhar sem qualquer tipo de ensaio.
Neste trabalho podemos encontrar vários elementos comuns ao ser humano, no sentido metafórico, tais como as lâmpadas que representam a ideia, a caveira não só como morte mas como representante de uma vida, ou de um individuo sem face. Olho humano também está muito persente pois é um dos veículos para transmitir a informação visual para o cérebro humano. Tudo isto como uma forma de criticar a sociedade de massas, e a inércia que provoca ao ser humano de forma a deixar de pensar sobre problemáticas sociais e importantes.»



Em exposição no Centro de Estudos de História do Atlântico
Rua das Mercês 8, Funchal
10 a 31 de Maio de 2012

segunda-feira, 7 de maio de 2012